Superando barreiras, ampliando o acesso
Para a Dallas International University (Universidade Internacional de Dallas), um novo foco e novas parcerias estão tornando a formação mais acessível, beneficiando os movimentos de tradução da Bíblia em todo o mundo. A seguir, nossa conversa com Scott Berthiaume, presidente da Dallas International University, e David Pattison, diretor de Iniciativas Estratégicas da DIU.
Como as coisas estão mudando para a DIU em relação à forma como vocês estão oferecendo a formação às pessoas, em vez de fazê-las vir até Dallas? O ensino a distância, obviamente, não é novidade, mas sei que vocês estão fazendo algumas coisas novas.
Scott Berthiaume:
Tudo começou com uma conversa que tivemos com uma organização chamada Christian Halls. Eles atuam em alguns países e utilizam um determinado modelo de tutoria para alunos do ensino médio. Estávamos conversando sobre oferecer matrícula dupla a eles.
A conversa com eles trouxe à tona dois desafios em relação à formação internacional: transpor a barreira do idioma e transpor a barreira financeira.
Depois da COVID, começamos a conversar com a Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM), no Brasil, e também com a Universitas Kristen Indonesia Tomohon, sobre como capacitar brasileiros e indonésios em tradução da Bíblia. Já tínhamos um modelo em nosso departamento de Belas Artes. Eles haviam criado cursos intensivos que vínhamos utilizando há algum tempo, nos quais os instrutores vão até o local por algumas semanas para ensinar de forma intensiva, como parte de um curso de 15 semanas; o restante é feito online.
Fomos aprovados por nossa agência de credenciamento para oferecer esses cursos intensivos, como os chamamos. Não precisamos obter permissão para estabelecer um campus institucional separado em outra parte do mundo, desde que mantenhamos menos de 25 por cento da carga horária em ensino presencial, com o restante online. As partes online podem ser síncronas, assíncronas ou uma combinação das duas. Isso nos deu uma forma, um modelo, de ministrar ensino internacional em uma escala maior.
Depois, havia a questão da barreira linguística. Nessas conversas com o Brasil e a Indonésia (que aconteceram mais ou menos ao mesmo tempo), percebemos que havia uma profundidade significativa no nível de mestrado entre os parceiros, que já têm muita experiência prática. E há um bom nível de bilinguismo. Em ambos os lugares, vimos que podíamos parear docentes principais da DIU, responsáveis por cursos de linguística, com parceiros locais em nível de Mestrado em Artes como instrutores associados. Eles, na verdade, passam a fazer parte da família DIU. Passam a integrar o corpo docente. Eles gostam disso porque se tornam parte de uma instituição acadêmica. Se aplicarmos esse modelo intensivo e superarmos a barreira linguística, conseguimos oferecer um mestrado credenciado no Brasil.
No caso da Indonésia, eles já têm credenciamento. Trata-se, na verdade, de um seminário credenciado. Então, o que fazemos é o que chamamos de articulação. Nós simplesmente transferimos os créditos dos cursos. Mas seguimos o mesmo modelo básico: nível de mestrado, pareando os alunos com nossos PhDs, traduzindo todo o material para o indonésio e utilizando o mesmo modelo de oferta. E agora os indonésios estão cursando disciplinas da DIU com créditos válidos.
Você mencionou que precisa ser menos de 25% presencial. Mas isso ainda oferece boas oportunidades para que as turmas se encontrem, certo?
SB:
Obviamente, se vamos pedir que alunos de diferentes ilhas da Indonésia se reúnam por duas semanas, provavelmente vamos oferecer mais de uma disciplina nesse período. Queremos “matar mais de um pássaro com uma cajadada”. A ideia também é proporcionar uma mentoria constante com o instrutor associado deles, que funciona como elo direto com os alunos na Indonésia. Mesmo durante a parte não intensiva do curso, esse instrutor pode continuar presente, encontrando-se com os alunos, oferecendo tutoria e apoio.
Sempre soubemos que uma das verdadeiras forças da DIU é sua rede de conexões. Não temos muito dinheiro em caixa. Não somos proprietários de edifícios. Nossa força está na experiência do corpo docente, especialmente a experiência prática de campo. Mas também temos essa rede extraordinária e bem conectada. Conhecemos muitas pessoas e organizações ao redor do mundo, graças ao nosso histórico com a SIL. …
Acabei de voltar do México, foi lá que moramos por muitos anos. Conversamos com organizações parceiras por lá e, depois, por Zoom, com outras na América Latina sobre a oferta de um mestrado em assessoria de tradução em espanhol. Há uma enorme necessidade de consultores, ou pelo menos de assessores. E há uma grande quantidade de experiência disponível por meio das nossas redes e colegas. Mas é muito difícil encontrar um programa sustentável e credenciado com o qual se possa estabelecer uma conexão. Por exemplo, em uma organização mexicana onde trabalhei, usávamos o modelo antigo. Incorporávamos um programa da SIL dentro de uma universidade estadual. E foi ali que aprendi sobre administração acadêmica. Bem, esse tipo de programa só dura enquanto a universidade quiser você ali. E, geralmente, isso depende de uma pessoa que é sua amiga, que é cristã, algo assim. Quando essa pessoa sai, o programa também vai embora. Foi por isso que, há bastante tempo, nos tornamos a GIAL (Graduate Institute of Applied Linguistics — Instituto de Pós-Graduação em Linguística Aplicada), independentes da Universidade do Texas.
Essas coisas acabam acontecendo. Aconteceu no México, e está acontecendo em outras partes da América Latina. Nesse sentido, podemos entrar e fornecer essa infraestrutura acadêmica, essa estrutura abrangente que traz estabilidade.
Em outras palavras, nossos parceiros podem se concentrar no que fazem de melhor: ensinar, recrutar, selecionar as pessoas certas e organizar os cursos. Normalmente, é na parte mais complexa da administração acadêmica, nos relatórios, nas exigências de conformidade, que surge a necessidade para oferecer um diploma credenciado. E nós conseguimos fazer isso porque (já) temos que fazer.

Durante o Encontro Global da Aliança em 2024, a Dallas International University (DIU) e a Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM) formalizaram uma parceria para ampliar a capacidade de tradução da Bíblia no Brasil e em outras regiões lusófonas. As organizações colaborarão na oferta de um Mestrado em Facilitação da Tradução (MA-FT), ministrado em português. O presidente da DIU, Scott Berthiaume (à esquerda), e o diretor executivo da ALEM, Edilson Renzetti, assinaram o acordo de parceria.
(Foto: Jen Pillinger)
Como a DIU mudou sua estratégia e filosofia nos últimos cinco anos, aproximadamente? O que está diferente hoje em relação ao período antes da COVID?
SB:
Nossa declaração de missão acabou de mudar. Essa é a maior novidade. Tivemos uma longa conversa com as partes interessadas, durou cerca de 14 meses, envolvendo a escola e outros colaboradores, inclusive nossos dois ex-presidentes. E o conselho aprovou uma nova missão para a instituição. Nossa missão anterior era: “Como instituição de ensino superior, oferecemos oportunidades de educação e pesquisa que conduzem à obtenção de diplomas”. Ou seja, era voltada para a formação em linguística aplicada, estudos culturais e desenvolvimento de idiomas.
A nova missão diz: “Como universidade cristã”, acrescentamos isso; era importante deixar claro que somos uma universidade cristã, “oferecemos oportunidades de educação e pesquisa que preparam líderes globais para atuar em parceria com comunidades locais”.
Como essa mudança foi recebida internacionalmente?
SB:
Cem por cento positivamente.
Porque, de repente, não parece mais um modelo ocidental? É mais ou menos isso que vocês estão buscando?
SB:
Sim. Nossos alunos de Uganda, temos 15 deles em um programa de agronegócio, são futuros líderes globais. E isso é algo com que o Bobi Agribusiness Institute, nosso parceiro lá, se identifica. Eles não se identificam com diplomas em linguística aplicada. Eles querem que esses jovens sejam agentes de transformação para Cristo.
Acredito que, para a DIU, ou para a GIAL, a visão anterior era ser uma instituição de referência e reconhecida em linguística. Porque esse era o modelo antigo, trabalhando com universidades seculares. E isso é algo bastante ambicioso e de grande valor. Mas, no mundo atual, é uma carta difícil de jogar, porque há muito foco em parcerias com pessoas de outros países.
Como aconteceu essa mudança na missão?
SB:
Foi de modo gradual. A primeira grande mudança foi quando o programa de nível de bacharelado começou, lá em 2014. Ainda é um programa pequeno. Mas foi o que começou a fazer a escola pensar com uma mentalidade mais universitária. Depois, lançamos o doutorado em Belas Artes. Em seguida, o conselho mudou o nome para Dallas International University. Tivemos uma nova iniciativa estratégica para expandir o ensino a distância. Lançamos isso em 2019. Compramos um monte de equipamentos e começamos a preparar nossas salas de aula para o ensino híbrido.
E então veio a COVID. Antes da pandemia, tínhamos apenas um ou dois cursos a distância. Mas, de repente, tudo o que precisávamos fazer era “ligar” o sistema Já estava pronto. Não foi indolor, mas foi muito melhor do que poderia ter sido.
Então, a mudança de nome e esse impulso nos forçaram, literalmente, a adaptar todos os nossos cursos para esse novo público. Desde então, as horas de crédito do ensino a distância só aumentaram. Hoje, cerca de dois terços das nossas horas de crédito vêm do ensino a distância. Nossa matrícula nunca foi tão alta, e nosso campus, nunca tão silencioso.
Quantas pessoas vocês têm no campus atualmente?
SB:
Cinquenta ou sessenta. E nem todos moram aqui. Alguns vivem nas proximidades. Mas até o final do verão, teremos uma matrícula total (incluindo os alunos remotos) de cerca de 350. Vamos adicionar 25 ugandeses em junho, para a nossa segunda turma lá. E vamos adicionar mais 25 indonésios também em junho.
Além disso, já temos mais alunos a distância, mesmo entre os que vivem nos Estados Unidos. O programa de Belas Artes já vinha seguindo essa direção. E os demais departamentos simplesmente acompanharam.
Mas ainda não estamos totalmente satisfeitos. O ponto crítico para nós agora é o número relativamente pequeno de alunos presenciais em aulas híbridas. Às vezes, temos dois alunos na sala e cinco online.
Isso é meio difícil, não é?
SB:
Sim. Por isso, temos algumas disciplinas em que decidimos simplesmente criar duas turmas. Ou todos estão online juntos, ou todos estão em sala de aula. Mas ainda não encontramos a solução ideal.
É interessante observar, em todo o campo da tradução da Bíblia, como a COVID acelerou tantas mudanças que já estavam a caminho. Dá a sensação de que hoje estamos mais preparados do que jamais imaginamos estar neste ponto?
SB:
Acho que, para nós, foi um empurrão muito saudável. Tivemos a sorte de já ter aquele plano de expansão pronto para ser implementado. Não era o que queríamos. Todos nós adoraríamos estar juntos presencialmente. Há muito aprendizado orgânico que acontece quando estamos juntos. E ainda queremos encontrar uma forma de fortalecer novamente nosso lado presencial. Essa é, de certo modo, nossa nova barreira — como isso se apresenta hoje no contexto da tradução da Bíblia e do ensino superior cristão?
O que você gostaria que as organizações da Aliança ao redor do mundo soubessem sobre a DIU que talvez ainda não saibam?
SB:
Somos flexíveis. Ficaremos felizes apenas em ajudá-los a ter sucesso. Isso pode ser algo simples, como manter uma amizade, oferecer conselhos ou compartilhar experiências, ou receber isso deles. Pode significar uma relação formal, ou apenas uma parceria de amizade e troca de boas práticas.
Nossos órgãos de credenciamento são muito favoráveis à escola. E acredito que isso se deve, em parte, à pressão que eles também sofrem do governo federal por resultados. … Por isso, estão realmente tentando ser mais abertos. O fato de termos obtido aprovação para um novo curso de tecnólogo — justamente em Uganda, que está muito longe do sul dos Estados Unidos — foi uma grande demonstração de confiança. É um bom ambiente.
Mas não precisa estar sob nosso guarda-chuva. Se pudermos ajudar outra instituição a ter sucesso sob o guarda-chuva dela mesma, isso seria ainda melhor, não é?
David Pattison:
O diploma na Indonésia é concedido por aquela universidade. A contribuição da DIU é a inserção de disciplinas, especialmente nas áreas de especialidade como Linguística para Tradução e Assessoria em Tradução. Eles oferecem o ensino de grego, hebraico e outras matérias que já fazem parte do currículo deles. E nós entramos com o que eles ainda não têm.
SB:
Firmamos um acordo de parceria formal com eles, o que lhes deu um bom respaldo. Eles precisavam obter aprovação para esse novo programa em tradução da Bíblia. Um Mestrado em Teologia com ênfase em tradução da Bíblia. Assim, não precisaram buscar aprovação própria de credenciamento. Ter uma parceria conosco deu a eles mais credibilidade para mostrar que o projeto era sério. E conseguimos fornecer tudo o que era necessário da nossa parte na documentação para que o processo fosse aprovado. Mas a vitória é deles.
Então, eu diria que a principal mensagem é que somos flexíveis. Pode ser que descubramos uma forma de oferecer apenas algumas disciplinas. Mas estamos realmente comprometidos em superar a barreira linguística e em formar pessoas em outros países junto com eles, porque há muita capacidade local e tudo se torna muito mais rico dessa forma.
Há alguma inovação ou ideia recente que tenha ajudado a superar algumas dessas barreiras?
SB:
Fiquei muito animado com o programa no Brasil (assinado com a ALEM durante o Encontro Global da Aliança, em Joanesburgo). A Wycliffe EUA está oferecendo bolsas de estudo para esses alunos. O que torna esse programa único é que, sendo um mestrado em assessoria de tradução, ele é oferecido, em grande parte, para ex-alunos da ALEM que já têm muita experiência, alguns talvez até já estejam em processo de formação como consultores. Então, oferecer algum auxílio com as mensalidades para que alguém consiga concluir esse mestrado com sucesso é um ganho para todos. Porque é muito raro que essas pessoas deixem o ministério de tradução da Bíblia. Elas já estão envolvidas há muito tempo. E provavelmente já atuam, de alguma forma, na consultoria.
Assim, conseguimos oferecer a essas pessoas uma qualificação formal e, ao mesmo tempo, continuidade na formação. E o melhor: é tudo local. Elas não precisam comprar passagens aéreas nem mudar suas famílias para vir para Dallas por dois anos. Isso reduz muito os impactos e interrupções.
Esse é apenas um exemplo. Estamos em conversas sobre outros projetos em diferentes partes do mundo. De qualquer forma, todos ganham, porque pelo menos nos encontramos, conversamos, nos inspiramos e oramos uns pelos outros. E, às vezes, coisas muito boas surgem dessas interações.
Há alguma região do mundo em que vocês gostariam de se especializar, mas ainda não atuam?
DP:
Já nos reunimos com duas instituições de ensino superior credenciadas, faculdades ou institutos, na Ucrânia. E o foco lá é cura de traumas, ou artes e cura de traumas, por causa da guerra. Tradução não é a maior necessidade no momento. Então, isso pode se transformar em algum tipo de parceria no futuro. E ambas as instituições estão trabalhando com ministérios na Ásia Central.
SB:
Temos um acordo com uma universidade muçulmana para pesquisa conjunta. Então, não seria impossível pensar em fazer isso também em outros lugares. Adoraríamos ver como isso poderia funcionar. Como somos uma universidade reconhecida e credenciada no meio acadêmico secular, existem formas de formar parcerias e viabilizar iniciativas, mesmo que seja apenas no campo do desenvolvimento linguístico.
Ser transparente como universidade cristã faz muito mais sentido para a maioria das universidades muçulmanas, porque elas também são transparentes em sua identidade islâmica. E se tivermos sobreposição acadêmica com elas, e temos bastante, então há maneiras reais de construir relacionamentos que podem ser muito positivos. Isso foge do padrão. E, nesse caso, estou apenas esperando no Senhor que essa oportunidade apareça, porque eu mesmo não saberia como começar. Mas seria algo muito interessante.
O trabalho e as parcerias globais são bem diferentes para os alunos de hoje, se comparados com os de uma geração atrás, certo?
DP:
Temos alunos que vêm até aqui e aprendem. Mas, por causa das mudanças na Wycliffe e em outras organizações, o caminho já não é tão claro como era antes. Então, uma das coisas em que estamos pensando é: para onde essas pessoas vão quando terminarem seus estudos aqui? Como podemos ajudá-las a encontrar essas conexões?
Isso certamente deve gerar conversas interessantes com alunos que sabem que Deus os está conduzindo para algo, mas ainda não têm clareza sobre o quê.
SB:
Temos uma reputação forte. Chamamos isso de nosso legado. Muitos alunos vêm por recomendação. Por exemplo, alguns estudaram no Moody Bible Institute, que nos conhece bem e nos recomenda. Então eles chegam aqui como o que chamamos de “não vinculados”. Vêm sem estar ligados a uma organização específica, mas vêm com muita seriedade.
E isso é o oposto do que acontecia antes, quando eles se vinculavam primeiro a uma organização, e então essa organização os enviava para cá. Essa inversão na ordem tem sido algo interessante para nós. Porque, na maioria das vezes, não podemos simplesmente encaminhá-los diretamente para uma organização nacional. Eles vão precisar de uma ponte para chegar até lá.
A Aliança Global poderia prestar um serviço muito importante nesse sentido. Especialmente com estágios. Eu consigo imaginar alunos passando um verão com algum parceiro que conhecemos.
•••
Para mais informações sobre a Dallas International University, escreva para info@diu.edu.
Entrevista: Jim Killam, Aliança Global Wycliffe
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